sábado, 9 de outubro de 2010

Diálogo sobre um diálogo

"A. - Distraídos a discorrer sobre a imortalidade, tínhamos deixado que anoitecesse sem acender a lâmpada. Não nos víamos as caras. Com uma indiferença e uma doçuraa mais convincentes que o fervor, a voz de Macedonio Fernández repetia que a alma é imortal. Assegurava-me que a morte do corpo é de todo insignificante e que morrer tem de ser o facto mais nulo que pode suceder a um homem. Eu brincava com a navalha de Macedonio : abria-a e fechava-a. Um acordeão vizinho despachava infinitamente a Cumparsita, essa ninharia consternada que agrada a muita gente porque lhes mentiram, dizendo que é velha...Propus a Macedonio que nos suicidássemos, para discutir sem estorvo.
Z. - (brincalhão). - Mas suspeito que por fim não se decidiram.
A. - (já em plena mística). - Francamente não me recordo se nessa noite nos suicidámos."



Jorge Luis Borges, O Fazedor

2 comentários:

  1. oi diana, fico muito feliz com teu comentário. demais agradecida pelo teu interesse.
    você nasceu 10 dias depois de mim, sou do dia 11 de janeiro. isso faz de mim capricorniana e de você, aquariana. signo bom pra caramba! fala mansa. estou no trabalho por isso ñ estou com o tempo necessário pra ler seu blog agora, mas estou seguindo.
    volte sempre e um beijo

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  2. nessa borgeana desmetafísica sobre o nada, macedênio fernandes nada nos diz, senão que a morte nos diz, e aí nascemos e vivemos, sem medo de suicídios...
    b
    de la mancha

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